Cães Matusalém: a história da longevidade canina
- Stephanie Lisieux
- 23 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 21 de jul.

Em 1910, um cão da raça blue heeler chamado Bluey nasceu em Victória, na Austrália. Ele viveu 25 anos e 5 meses, e entrou no Guinness como o cão mais velho do mundo. Bluey morava noma fazenda, onde trabalhava no meio das ovelhas e do gado.
Em 2016, uma kelpie australiana chamada Maggie morreu durante o sono; tinha, até onde se sabe, 30 anos. Assim como Bluey, Maggie morava numa fazenda, mas não pôde receber o título de cadela mais velha porque o dono perdeu os registros que comprovam sua idade. Trechos do livro The Forever Dog
Na contramão das estatísticas, Bluey e Maggie se tornaram símbolos de uma longevidade que muitos tutores nem imaginam ser possível. Enquanto a expectativa de vida média dos cães gira entre 10 e 13 anos (e, em alguns casos, até menos), esses dois cães ultrapassaram os 25; e fizeram isso com vitalidade, não apenas sobrevivência.
O que é um “cão Matusalém”?
No livro The Forever Dog, os autores usam o termo “cão Matusalém” para se referir a cães que vivem muito além da média, assim como Matusalém, figura bíblica que teria vivido 969 anos.
Em termos práticos, um cão é considerado Matusalém quando ultrapassa os 17 anos de vida com saúde e vitalidade.
No caso dos cães sem raça definida (SRD), esse número pode subir para 22,5 anos ou mais.
Segundo os dados apresentados, apenas 1 em cada 1.000 cães chega aos 22–25 anos, ou seja, é raro mas possível.
E o mais interessante: a maioria dos cães Matusalém estudados não viveu tanto por ter uma genética especial, mas sim por estar inserido em um contexto que favorecia saúde real:
Exercício físico regular
Alimentação sem ultraprocessados
Baixos níveis de estresse
Contato com a natureza
Rotina com propósito (inclusive “trabalho” para cães de fazenda)
Ou seja, não é sobre perfeição, e sim sobre coerência com o que o corpo canino realmente precisa para viver bem.
Mas o que havia de tão especial na vida deles?
Essa é a pergunta que abre o livro The Forever Dog e que inspira este reflexão: será que a forma como vivemos com nossos cães hoje está encurtando a vida deles sem que percebamos?
O estilo de vida
Bluey e Maggie viviam em fazendas. Tinham liberdade para correr, cheirar, se exercitar, interagir com a natureza e seguir seus ritmos naturais.
O dono de Maggie , Brian, disse que ela corria vários quilômetros todos os dias, perseguindo o trator que ele dirigia. - The Forever Dog
É aqui que surge a provocação: quantos dos nossos cães poderiam viver mais (e melhor), se alguns hábitos fossem ajustados?
O foco aqui é O CONTEXTO:
O ambiente em que o cão vive, a alimentação que consome e o nível de estresse a que é exposto, são tão decisivos quanto sua genética.
A diferença entre o que é “normal” e o que é “comum”
Muitos tutores aceitam que cães vivam pouco porque “sempre foi assim”. Mas o livro propõe um olhar mais crítico:
“A maioria morre mais jovem por doenças evitáveis. A verdadeira questão não é apenas quanto tempo eles vivem, mas como vivem.”– The Forever Dog
“Comum” é diferente de “natural”. Envelhecer com dores, desenvolver tumores, engordar progressivamente e perder energia aos 7 anos de idade pode ser comum, mas não precisa ser o destino inevitável.
O que a ciência está revelando sobre longevidade canina
A equipe da Dra. Enikő Kubinyi, em Budapeste, estuda cães longevos e como seus hábitos impactam o processo de envelhecimento. Esses estudos reforçam que os cães são modelos úteis para compreender o envelhecimento humano e vice-versa.
A pesquisa é uma via de mão dupla: à medida que aprendemos mais sobre os fatores que prolongam a vida canina, podemos aplicá-los na prática, mudando rotinas simples como:
A forma como oferecemos comida
A quantidade de movimento físico diário
O acesso à natureza e ao ar livre
A exposição ao estresse e à solidão
Longevidade não é algo aleatório, é construção
Uma das partes mais valiosas do livro é a afirmação de que longevidade é uma escolha feita ao longo do tempo, nas pequenas decisões diárias.
“Talvez seja surpreendente se dar conta de que a coisa mais importante que podemos fazer para prolongar a vida de nosso cão também serve para nós: otimizar a dieta.”– The Forever Dog
Mas a dieta é apenas uma parte da equação. Ela conversa com o estilo de vida, com o ambiente e com a nossa presença.
Os cães longevos citados no livro não tinham uma dieta perfeita, mas tinham um contexto que respeitava seus instintos naturais.
E é isso que começa a moldar o que o livro chama de “cão eterno”: um cão que vive mais e melhor, não por sorte, mas por cuidado consistente.
E se a longevidade do seu cão estivesse ao seu alcance?
A resposta não está em um único alimento, suplemento ou protocolo. Está em fazer o melhor possível com o que se tem e sempre que possível, fazer um pouco melhor.
Esse é o tom que guia o nosso canal Cão com Ciência no Instagram: entregar conhecimento para que você, tutor ou tutora, faça escolhas conscientes e possíveis, sem julgamentos ou pressões.
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Nos próximos artigos, vamos aprofundar os temas que moldam essa longevidade:
Como a alimentação se comunica com os genes
O que o corpo do cão espera receber de verdade
O que é considerado inflamatório no dia a dia
Como começar a fazer mudanças viáveis
Fica com a gente. A vida do seu cão pode ser mais longa e mais viva.
Leia também: Rejuvenescendo pela comida: o que The Forever Dog revela sobre nutrição, longevidade e escolhas possíveis
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